sexta-feira, 30 de maio de 2008

Uma geração sem rosto







Você já viu esse rostinho antes?


Provavelmente não, mas com certeza você já ouviu falar no nome desta garota. Quando esta foto foi tirada, em 1980, ela era uma das meninas mais famosas da Europa. Aos 18 anos, seu nome já era símbolo de uma parcela da juventude do final dos anos 70. Uma série especial de entrevistas com ela havia sido publicada três anos antes em uma das principais revistas do seu país natal, a Alemanha (no caso, a Alemanha Ocidental). Dessas entrevistas surge um livro e do livro, é feito um filme. A menina cuja imagem não podia ser mostrada e o sobrenome não era revelado além da primeira letra finalmente entrava na maioridade e podia aparecer para o público que a encarava como a promessa de esperança de uma geração.




Bonita, jovem, ela poderia se passar por uma simples jovem universitária de Berlim. Mas essa garota não chegou a terminar a escola: durante toda a adolescência, enquanto devia estar estudando, ela andava pelas ruas, passava as tardes na Estação Zoo e os fins de semana em um apartamento sem móveis e sem limpeza. Nas ruas ela arrumava clientes, na Estação Zoo comprava e usava a heroína que adquirira com o dinheiro do último programa e no apartamento sujo se sentia livre ao lado do namorado e dos outros amigos viciados.




A história de Vera Christiane Felscherinow, a famosa Christiane F., é um dos retratos mais assustadores da juventude do século XX. Como ela, centenas de adolescentes recém saídos da infância optavam por uma vida à parte na sociedade, se drogando e prostituindo. Quando essa foto de menina bonita e saudável foi publicada (ela havia acabado de passar por um processo de desintoxicação, dos inúmeros que fez durante toda a vida), muita gente achou possível esquecer o retrato de Babette Döge, a menina de 14 anos que fora capa de todas as publicações apenas quatro anos antes. Ela era conhecida como Babsí, era uma das melhores amigas de Christiane F. e as manchetes na imprensa alardevam: "A mais jovem vítima de heroína da Europa: Ela só tinha 14 anos!"








Quando Christiane contou sua história, em um livro que ficaria por dois anos no topo da lista dos mais vendidos da Alemanha, ela revelou também a trágica história de Babsí: aos 13 anos, já estava viciada, prostituída, fora seqüestrada por um cafetão, torturada durante um estado de abstinência da droga e estuprada por diversos homens. Era a prostituta infantil de maior sucesso entre as jovens drogadas: era a mais bonita e, mesmo quando muito magra por causa da heroína, Christiane dizia que ela continuava parecendo uma debutante da elite. Mas não houve um Babette D., assim como não houve muitos outros relatos de meninos e meninas, fossem eles da Alemanha ou de qualquer outro país, nos anos 70 ou no início do século XXI. Christiane F, hoje com 45 anos, jamais se livrou das drogas. Sua principal fonte de renda ainda vêm do dinheiro que recebe pelos direitos da sua história publicada em livro e relatada no cinema, já que ela não consegue permanecer em nenhum emprego muito tempo. Mas quase ninguém mais compra o livro Eu, Christiane F, 13 anos, drogada e prostituída e nem quer ver o filme de mesmo nome. É uma história do passado, de uma juventude muito distante destes que hoje se comunicam por messenger, escutam David Bowie em iPods e vão à raves tomar balas coloridas com o nariz empinado de uma geração que sabe muito mais do que as gerações antigas, dos "nossos" pais (e em pouco tempo, Christiane F. será da geração dos "nossos" avós...)


Um comentário:

Sarayu disse...

A Cris é e sempre será eterna.Mesmo com tantos erros,ela é pra mim e pra maior parte dos adolescentes daqui um exemplo não só para as drogas,mas paara a vida.

não critico a Cris.

ela é demais!